Movimento Correnteza - O
que é a OBMEP, e qual seu objetivo?
Rafael de Freitas Lopes -
A OBMEP é a olimpíada de matemática das escolas públicas. Acredito que seu
objetivo seja o de estimular o interesse pelo estudo da matemática nas escolas
da rede pública. Por outro lado, ela também pode ter a intenção de avaliar as
escolas públicas, quanto à qualidade do ensino praticado na rede, já que suas
questões, comparadas às da OBM, são mais apropriadas para este objetivo.
MC - Qual importância
dela para a vida estudantil? Ela abre portas para o exterior?
RF - Partindo do sabido de
que a matemática é uma disciplina que carrega o estigma da disciplina que mais
reprova, aquela cujas médias são as mais baixas, na qual os educandos encontram
muita dificuldade no aprendizado, certamente um certame deste tipo pode até ter
um efeito contrário. Por outro lado, a escola que estimula seus alunos a
participarem, oferecendo orientação em aulas especiais, pode contribuir para o
sucesso desta iniciativa. Todos sabemos
que um bom ensino de ciências, é característica de países com alto grau de
desenvolvimento. Claro, não somente pelo ensino de ciências, mas em particular
esta disciplina é um dos pilares na construção do pensamento científico, base
para uma sólida formação profissional. Quanto a abrir portas para o exterior, não
que eu seja xenófobo, não me preocupa muito, já que o que se produz hoje no
Brasil em pesquisa na área de ensino de ciências e matemática nos coloca ao
nível dos grandes centros de excelência. Por outro lado, a colaboração entre os
países sempre foi importante. Devo dizer que a comparação de alunos em um
ranking internacional não me agrada muito,mas
essas olimpíadas é um caminho para fazer as internacionais.
MC - Como funcionam as
provas (fases)? Qual o número de questões e como é feita a pontuação?
RF - A OBMEP é realizada
em duas fases. Na primeira fase, os alunos respondem a 20 questões de múltipla
escolha, onde se classificam para a etapa seguinte 5% dos alunos com maior
pontuação. A primeira fase é apenas classificatória e não influencia na nota da
fase seguinte. Na segunda, a prova é dissertativa, geralmente com 6 a 8
questões, onde os candidatos devem explicar o seu raciocínio e exibir os
cálculos efetuados. As provas da segunda fase são corrigidas regionalmente,
assim definindo uma nota de corte e então são recorrigidas nacionalmente com
uma equipe unificada que define os futuros premiados.
MC - Como funcionam as premiações?
RF - As premiações
funcionam da seguinte maneira: são oferecidas nacionalmente para o nível que
participamos (Nível 3) 100 medalhas de ouro, 300 medalhas de prata e 465
medalhas de bronze, além de certificados de menções honrosas, que são para os
alunos de maior pontuação nacional, que
não ganharam medalhas.
MC - O que é o PIC, e de
que forma ele opera?
RF - O PIC (Programa de Iniciação
Científica) é um programa que estimula nos alunos o gosto pela ciência,
motivando a escolha profissional por carreiras científicas e tecnológicas, onde
os conhecimentos matemáticos são aprofundados. Este programa tem duração de 1
ano e é oferecido aos alunos que obtiveram medalhas de cada ano, onde eles recebem
uma bolsa mensal de R$100,00. No link http://www.obmep.org.br/prog_ic_2008.html os alunos podem encontrar outras
informações sobre este programa.
MC - Em relação à OMERJ (Olimpíada de
Matemática do Estado do Rio de Janeiro) e à OBM (Olimpíada Brasileiras de
Matemática) , por que o IFRJ – Campus Rio de Janeiro não participa?
RF - Achamos melhor nos dedicar à OBMEP, por
ser estimulada pelo MEC. Seria muito difícil para nós, professores do IFRJ, administrarmos
todos estes eventos.
MC - A escola tem alcançado bons resultados
na OBMEP? Poderia dar alguns exemplos? E por que há pouca divulgação desses
resultados? Você acha que deveria haver mais reconhecimento por parte dos
alunos?
RF - Sim, temos excelentes resultados. Em
todos os anos em que foram aplicadas, nossos alunos têm conseguido conquistar
medalhas de ouro, prata e bronze, além de significativa quantidade de menções
honrosas. Não sei responder o motivo pelo qual não se divulgam estes resultados
com a ênfase que se deveria. Quanto ao reconhecimento desses alunos, sim, acho
que deveriam ser mais reconhecidos por seu talento. Por outro lado, não ter
bons resultados em matemática não significa que sua vida profissional está
comprometida. Temos que nos preocupar sim, com o rendimento dos alunos como um
todo, em sua formação integral. As olimpíadas cumprem um papel importante, mas
não é tudo. Fica parecendo que quando enaltecemos os alunos por serem ótimos em
matemática, aqueles que não o são se sentem discriminados, punidos por sua
incapacidade. A OBMEP é muito mais que uma competição, é um estimulo a alegria
de se trabalhar com a matemática.
MC - Você acha que escola, por ser técnica,
faz com que o ensino de matemática seja atrapalhado? Acha que devia ter um
incentivo maior pela escola em relação as olimpíadas?
RF - Não restam dúvidas de que nossa
modalidade de ensino é diferenciada em relação ao ensino médio propedêutico e
isso é um complicador. Acho que está de bom tamanho, os alunos é quem ditam esta
medida. Não que os professores não se esforcem para tal, mas respeitamos suas
limitações impostas pelo ritmo árduo de suas tarefas cotidianas.
MC - No caso de alunos que tem mais
interesse pela matéria, não poderia haver algum auxílio como criação de turmas
de estudos para olimpíadas? E aos alunos menos interessados, algum tipo de
incentivo?
RF - Já fazemos isso aqui no IFRJ, com a
recuperação paralela, que é ao mesmo tempo suporte pedagógico aos alunos como
também uma espécie de estudos dirigidos. Quanto às aulas direcionadas para a
preparação ás olimpíadas, como disse isto sobrecarregaria muito estes alunos.
Por mais que se tenha talento e motivação, deve-se respeitar sua juventude. A
vida não se resume a competições. Por outro lado temos graves problemas de
infraestrutura no campus que nos impossibilitam de oferecer aos nossos alunos
tudo aquilo que eles merecem
MC - Qual é sua recomendação para alunos
que desejam se preparar para as olimpíadas do próximo ano?
RF – Que continuem com este espírito jovial
e alegre, pois é dele que a ciência se nutre. No dizer do filósofo, a
inteligência é a luz da ciência. E nesse sentido, nossos jovens não só tem
bastante inteligência para tal, como iluminam nossas vidas no desafio diário de
trabalhar neste agradável e fraterno convívio escolar.
No site www.obmep.org.br
os alunos poderão encontrar todo material de apoio para se preparar para OBMEP,
bem como podem tirar outras dúvidas.
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