Entrevista com o ex-diretor da ETFQ, Manuel Virgílio!

domingo, 6 de novembro de 2011 4 comentários
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 Auditório do IFRJ campus Rio de Janeiro foi palco, nessa última Terça-Feira (02/11/2011), do lançamento do livro “A Terra em Agonia”, sonetos escritos pelo ex-diretor da ETFQ (Escola Técnica Federal de Química), Manuel Virgílio. Que nos concedeu uma entrevista, onde conta a história da “Química”, como gosta de chamar a Escola Técnica, desde os seus primórdios até sua “cefetização”; revelou o medo iminente da anexação da ETFQ ao CEFET, e comentou sobre o movimento estudantil da época ressaltando sua importância, cita uma manifestação dos estudantes, que levavam cartazes com frases para a permanência da Química, chamando a atenção das autoridades. Além de ser um crítico ferrenho das aulas expositivas. Manuel Virgílio se emociona ao contar uma história de batalhas e vitórias, a nossa história. Confira:
Movimento Correnteza – Qual a importância da figura do Senhor Diretor Edmar na condução da Escola Técnica?
Manuel Virgílio – Mesmo sendo diretor da CEFET e da ETFQ, ele deu muita importância a Química. Criou serviços, ampliou a escola, dando espaço a Química; pois éramos muito pequenos, não tínhamos quase nada. Nesse período já tinha surgido o medo da anexação, e Edmar ficou em dúvida em anexar ou não; felizmente optou pela segunda opção quando foi indicado meu nome para sucedê-lo no cargo.
MC – Após a indicação do seu nome por Edmar para ocupar o cargo de diretor da ETFQ, várias mudanças ocorreram em sua vida naquele ano (em torno de 1981), entre elas seu retorno ao Rio de Janeiro. Como foi receber essa notícia?
MV – Eu estava em Brasília, trabalhando no ministério, e não me sentia bem naquele ambiente burocrático. Quando tive conhecimento da indicação do meu nome por Edmar, fiquei muito feliz, recebi com muita felicidade a notícia, pois é o que eu gosto de fazer, ser “homem de escola”. Mas me preocupei com a recepção que eu receberia, então vim ao Rio e conheci o Professor Ivonilton e outros. Percebi que gostaram da idéia de ter um diretor só para eles, por fim aceitei. Nos quatro anos da minha gestão tive o receio de parecer um intruso, por vir de outro estado, na época que eu ia entregar o cargo fiz uma eleição e acabei ganhando (risos).
MC – Sua gestão no ETF-GO (1976-1980) foi bastante elogiada e reconhecida pelo MEC. Como foi enfrentar o desafio de administrar uma escola em pleno processo de ampliação e encontrada naquelas circunstâncias?
MV – Quando entrei na ETFQ, ela ocupava dois andares das instalações do CEFET. Era uma escola subgênero, muito pequena, muito apertada, não possuía muitas coisas que as outras escolas possuíam. Nós tivemos que começar na Química quase que do zero, e iniciei um movimento para assegurar as estruturas básicas de qualquer escola.
MC – A frente da Direção da ETFQ o senhor enfrentou a pressão do MEC em baixar o custo por aluno, e decidiu alterar o sistema de anualidade adotando a semestralidade, que vigora até hoje. Qual efeito causou essa alteração na época?
MV – O efeito foi extraordinário, os professores me diziam que nunca tiveram turmas anuais com rendimento tão bom quanto o semestral. O ensino semestral é bem mais eficiente, melhorou muito, sendo um progresso para a Química.
MC - Mas por que esse sistema é tão eficiente?
MV – Funciona melhor, pois é mais trabalhoso. O aluno não tem tempo de perturbar a aula e os professores trabalham muito, às vezes gera algumas reclamações. E acredito que o retorno a anualidade é um retrocesso.
MC – Em seu mandato foi resgatada a liberdade de expressão dos alunos, surgiu o CCE e o Cart, entre outros organismos estudantis. Em sua opinião qual é a importância de se implantar essa política estudantil na escola?
MV – Durante minha gestão tínhamos muitas instâncias estudantis. Tínhamos até clube de Surf (risos). Mas a diretora que me sucedeu (Profª Maria Célia) resolveu acabar com tudo para ficar só com o grêmio, para ter maior centralização política. O Cart me dava um trabalho tremendo, tinha noites que ficávamos até de madrugada discutindo o que eu poderia resolver. Eles faziam as reuniões, apresentavam os problemas e eu depois apresentava as soluções. Eu me orgulho por ter falado com todos, ser reconhecido pelos alunos, faxineiros. Eu tenho vários depoimentos no Orkut que coleciono (risos).

MC – Que ameaça representava o Ministério da Desburocratização ao ETFQ?
MV - Quando eu cheguei aqui tinham 400 alunos e cento e poucos professores,  e boa parte deles de 20 horas, era inviável. O problema do ministério era mais econômico que outra coisa. Então fui chamado  e me disseram que nós éramos os alunos mais caros. Mais caros até que o do Pedro II! E logo recrutei dizendo que já tinha feito esse estudo e realmente eles tinham razão, mas valia à pena permanecer com a Química.  Assim ocorreram mudanças nas turmas.  Ao invés de contratar novos professores, foram colocados os que tínhamos para 40 horas; e com base nessas manobras consegui calar o murmúrio do Ministério. 
MC – Qual foi a repercussão da manifestação dos estudantes pela continuidade da ETFQ?
MV – Muito positiva, quando os meninos de jaleco encontraram - se com o MEC na Cinelândia, foram se destacando por sua forma de lutar. “Todo mundo diz que tudo está ruim, aqui vocês me dizem que a escola é ótima”, disse o ministro. Ele nos apoiou a partir daí, e conseguimos a causa.
MC – O Senhor completa seu mandato sendo sucedido pela Professora Maria Célia Freire de Carvalho. Conta como foi essa sucessão.
MV – Como foi a sucessão? Ocorreu a eleição e eu ganhei, mas quem assumiu foi a Maria Célia; a terceira da lista tríplice. Ela ficou chocada, chorou, mas no outro dia aceitou. Cheguei a receber um convite para ficar como vice-diretor, mas me jogaram numa saleta e fiquei sem fazer nada. Resolvi ir para Nilópolis.
MC – O que significou a passagem da ETFQ para a CEFETEQ, e depois da CEFETEQ para o IFRJ?
MV – Foi o mesmo trajeto de todas as escolas técnicas, a “cefetização”. Eu não era favorável por que gosto do médio-técnico e tinha medo da graduação tomar o seu lugar; mas a Química não podia ficar para trás. Sobre sua passagem para IFRJ tenho uma queixa, essa sede deveria ainda ser chamada de campus de química; simplesmente toda a nossa luta foi derrubada por uma caneta.
MC – O senhor sempre foi considerado um “homem de escola”, com toda a sua bagagem qual sua análise do sistema educacional atual?
MV - Isso é difícil de responder, eu tenho uma visão mais do meu segmento, o médio-técnico. Eu sempre lutei dentro da direção da escola por um ensino onde o aluno participasse mais, acho que podíamos melhorar o ensino de um modo geral, do que ficar elaborando provas. 
MC – Explica melhor sua opinião sobre aula expositiva?
MV – Sou contra a aula expositiva; esse 50 minutos que o professor fica só falando é perda de tempo, o rendimento do aluno tende a zero. Tem um filósofo que diz: “O que se ouve se esquece o que se vê a gente lembra, o que se faz, aprende”. Eu briguei aqui na escola por um método de ensino melhor. A Semana da Química tem um pouco disso, o Profº Reinaldo era fanático por ela, dizia ser a melhor semana de aula da escola, pela sua produção.



4 comentários:

  • Merendáz disse...

    Caramba, prof Hiram, "desenterrou" até nosso Jornal, onde tive o prazer de ser "repórter". Lembro também que, graças aos meus contatos de "beatlemaníaco", levei meus colegas até a extinta Rádio Imprensa, na Rua Felipe Camarão, onde tivemos um espaço para nos expressar contra a possível extinção de nossa querida Química.
    E o Grupo cover do Supertramp?

  • Merendáz disse...

    Caramba, prof Hiram, "desenterrou" até nosso Jornal, onde tive o prazer de ser "repórter". Lembro também que, graças aos meus contatos de "beatlemaníaco", levei meus colegas até a extinta Rádio Imprensa, na Rua Felipe Camarão, onde tivemos um espaço para nos expressar contra a possível extinção de nossa querida Química.
    E o Grupo cover do Supertramp?

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